O Pará deve anunciar a conclusão de sua primeira emissão de créditos de carbono no final de junho, durante a Semana da Ação do Clima em Londres, afirmou à Folha o governador Helder Barbalho (MDB).
Segundo ele, a operação envolve 1 milhão de créditos de carbono. O valor e a empresa parceira ainda não podem ser divulgados.
O estado calcula possuir uma carteira total de 156 milhões de certificados do tipo. O potencial financeiro é calculado acima dos R$ 10 bilhões, o que colocaria a fonte de recursos no mesmo nível de importância dos setores de mineração e agronegócio na economia paraense, disse Barbalho no sábado (6) em Cambridge (EUA), onde participa da Brazil Conference.
A ideia é que essa primeira emissão funcione como um chamariz para a atração de novos interesses do setor privado.
“Quando a gente pega o estoque florestal e transforma isso em uma receita, obviamente que isso traz uma cadeia de atividades oriundas da floresta, e aí eu estou falando de financiamento em bioeconomia, de outras atividades produtivas que já compõem a nossa estratégia dos sistemas agroflorestais, da migração de atividades de pecuária, por exemplo, para atividades de cultivo que restauram”, afirmou.
Em sua visão, o estoque florestal é o diferencial da agenda brasileira de transição ecológica em face da competição com outras economias, seja o programa trilionário adotado pelos EUA durante o governo Biden, sejam outros países do Sul global que sofrem com instabilidade institucional.
“Isso não nos exime da responsabilidade de combater o desmatamento, de reduzir emissões. Pelo contrário, nós temos que fazer cada vez mais, porque nós estamos falando de um ativo que precisa parar de ser destruído para continuar sendo um ativo”, disse.
Ao mesmo tempo, ele diz que o Brasil não pode ser responsável sozinho pela preservação da floresta e cobra que “o mundo seja responsável por fazer com a que a floresta seja a solução econômica e social do Brasil”.
“Se não, nós ficamos só com o ônus, mas e como ficam as pessoas? Temos 29 milhões de brasileiros que vivem na região, e nosso IDH [índice de desenvolvimento humano] é um dos piores do Brasil”, apontou.
Questionado se a preponderância da mineração e do agronegócio da economia estadual poderia ser um problema para a atração de investidores, Barbalho afirma que o estado tem combatido atividades ilegais e que está implementando um processo de rastreabilidade individual da pecuária.
O governador defende que minérios também sejam rastreados –algo que ele admite não conhecer um modelo do tipo no mundo. “Mas entendo que não é algo complexo, porque quando você tem uma autorização de exploração de lavra, uma licença ambiental, uma nota fiscal, você cruza as informações e você obriga que haja rastreabilidade”, diz.
‘Ministro fala de ângulo setorial e Petrobras erra no debate sobre a margem equatorial’
O governador do Pará minimizou a declaração recente do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que disse em entrevista à Folha que o país deve explorar petróleo e gás até conseguir ter o mesmo nível de países desenvolvidos.
Questionado se a visão não contraria o discurso que o Brasil tem feito como sede da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), que acontece em Belém no próximo ano, e como presidente do G20, Barbalho diz que Silveira fez a análise “de um ângulo setorial” e que “certamente a ministra do Meio Ambiente terá outra fala”.
Ao mesmo tempo, ele afirma que “qualquer proposta que vise só a segurança energética sem responsabilidade ambiental está equivocada”.
Nesse sentido, o governador criticou a Petrobras no debate envolvendo a exploração de petróleo na margem equatorial, especialmente na foz do Amazonas –alvo de oposição de ambientalistas. Na última segunda (1º), a empresa anunciou uma expedição científica para pesquisar a região, que vai do litoral do Rio Grande do Norte até o Amapá, na fronteira com a Guiana Francesa.
“Acho que a Petrobras erra quando não apresenta uma participação ativa e de liderança na construção das soluções para esse novo olhar sobre a Amazônia“, disse.
‘Todas as cidades gostariam de ter a oportunidade de Belém de sediar uma COP’
Nas últimas semanas, o governo Lula vem avaliando nos bastidores desidratar a COP30, com a realização de parte dos eventos em outras cidades, como Rio e São Paulo. O temor é que Belém não csoniga oferecer até novembro do próximo ano uma estrutura suficiente para acomodar o encontro, que deve reunir milhares de delgados e outros participantes de 195 países.
Questionado sobre essa possibilidade, Barbalho é categórico: “o governo federal já se manifestou. A COP está decidida”.
Ele afirmou que o formato do evento será o mesmo que ocorreu em outros locais que o receberam: “a cidade recebe acomoda todos os eventos”.
“Em entendo aqueles que especulam. Todos gostariam de ter a oportunidade que Belém está tendo”, disse.
‘Reeleição de Lula é profundamente favorável’
Apontado como possível vice de Lula em uma disputa pela reeleição, Barbalho afirmou que o Brasil continua dividido ideologicamente e que não acredita em uma mudança desse cenário em 2026. No entanto, ele vê possibilidades de atenuação.
“Isso depende muito da economia”, disse, elencando redução da inflação, da taxa de juros e do desemprego, e aumento da taxa de crescimento do PIB.
“Estamos falando de índices e números, alguns tangíveis e outros menos, uns já chegam e outros demoram mais para serem perceptíveis”, afirmou, ecoando avaliação de parte do governo que atribui o elevado percentual de insatisfação a uma dificuldade da população perceber no dia a dia a melhora de indicadores econômicos.
Ainda assim, Barbalho avalia que “o cenário de reeleição do presidente Lula é profundamente favorável”.
Sobre a oposição, ele afirma que citar qualquer potencial candidato nesse momento é especulação, mas diz que, independente de quem for, será um nome competitivo.
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