Um padre nigeriano sequestrado por extremistas foi forçado a marchar descalço por dias e deixado acorrentado por mais de um mês antes de sua libertação. Agora, ele está contando seu testemunho para inspirar pessoas que buscam cura de traumas semelhantes.
O padre Stephen Ojapah, autor de Lágrimas e Tortura: 33 Dias na Toca de Sequestradores, participou de uma mesa redonda sobre liberdade religiosa onde relatou os eventos da noite em que foi sequestrado, em maio de 2022.
Naquela noite, Ojapah e outros quatro, incluindo o padre Oliver Oparah, buscaram refúgio em uma paróquia no estado de Katsina, na Nigéria. Na ocasião, suspeitava-se que os extremistas que invadiram a paróquia seria de um grupo jihadista que havia se separado do Boko Haram.
Quando eles cercaram todos, não conseguiram identificar qual deles era o padre: “Eu disse ‘eu sou o padre’. Então eu implorei a eles ‘por favor, eu sei que vocês vieram por mim. Soltem os outros três e vão comigo’”.
Apesar da tentativa do padre de proteger seu rebanho, os insurgentes sequestraram os companheiros de Ojapah e forçaram os cativos a uma marcha que durou dois dias.
Tortura
Os sequestradores de Ojapah não permitiram que ele calçasse os sapatos antes de levá-lo para fora da paróquia, então seus pés estavam sangrando e ele teve dificuldade para ficar de pé durante toda a viagem.
Depois que ele percebeu que os homens armados estavam fumando maconha, que parecia dar-lhes energia, o padre perguntou se ele poderia ter um pouco. Os insurgentes deram a Ojapah um intensificador de energia, mas como o padre não tinha comida ou água, a droga só o deixou mais fraco. Dois dos companheiros do padre o ajudaram a continuar se movendo, carregando-o.
Por fim, os sequestradores forçaram seus cativos a andarem de bicicleta para levá-los pelo resto do caminho. Assim que chegaram ao seu destino, Ojapah disse que os sequestradores começaram a bater e açoitar o grupo.
“Quando terminaram de açoitar, amarraram nossas pernas com correntes e nos mantiveram no chão. A chuva caiu sobre nós, e o sol brilhou sobre nossa cabeça. E permanecemos nessa situação pelos 33 dias seguintes”, relembrou o padre.
Em certo momento, Ojapah e os outros começaram a cheirar mal de tal forma que “a sujeira se tornou parte” deles, um aspecto que o padre descreveu como “humilhante”.
Resgate e perdão
Depois de passar mais de 30 dias em cativeiro, a Diocese Católica de Sokoto pagou o equivalente a mais de US$ 30 mil em troca da liberdade deles. O padre lembrou que antes de sua libertação, um de seus captores perguntou a ele: “‘Padre, você ainda vai nos perdoar depois de tudo o que fizemos a você?’. Bem, como cristão e como padre, eu sabia que seria melhor perdoá-los. Então, eu disse a eles na cara ‘Sim, verdadeiramente eu os perdoo’. E eu quis dizer isso”.
“E ainda quero dizer isso porque isso realmente me ajudou a começar a processar minha própria cura e a me tornar melhor, a ser capaz de até mesmo contribuir para a humanidade e para a vida”, acrescentou.
Após sua libertação, o padre iniciou um projeto chamado Trauma Victims Initiative, que busca dar suporte a nigerianos que também enfrentaram uma experiência de sequestro. A iniciativa convida vítimas de trauma a passar por sessões de aconselhamento e compartilhar suas histórias.
Ojapah publicou suas memórias sobre sua cura do trauma da experiência do sequestro há dois meses. Ele considera o livro um “relato vívido do que as vítimas de sequestro passam na Nigéria e do trauma com o qual muitas vivem diariamente”, segundo informações do portal The Christian Post.
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