Tendo feito carreira como um analista de Renda Fixa, me acostumei a olhar para os investimentos de modo a identificar seus riscos – nem sempre tão aparentes – e seu retorno prometido ao final da jornada. Ainda assim, a escassez de títulos de prazos longos, a atratividade dos títulos pós-fixados e a própria volatilidade de uma economia emergente como a brasileira me fizeram adotar um horizonte de investimento mais curto. Isso demanda, portanto, ajustes de percurso periodicamente.
Neste contexto, é natural que a maneira mais difundida de gerenciar uma carteira de investimentos seja através do uso de algum otimizador que, calibrado para o perfil investidor, sugira percentuais de alocação em cada classe de ativo, buscando o maior retorno potencial para um determinado nível de volatilidade.
Ainda assim, é preciso entender que esta não é a única abordagem plausível, especialmente caso a aspiração de quem investe seja perseguir um – ou mais – sonhos já bem definidos.
O investimento baseado em metas é uma abordagem de investimento relativamente nova na gestão de patrimônio.
Enquanto a abordagem padrão prioriza a otimização da carteira com base em um nível de risco predefinido, o investimento baseado em metas adota uma visão holística. Ele foca na conquista de objetivos financeiros específicos.
Seja a aquisição de uma casa na praia, a faculdade dos filhos ou mesmo a renda necessária para aposentar, essa abordagem tem uma estratégia diferente para cada uma.
Para começar, é necessária a identificação e priorização dos seus objetivos financeiros.
Embora possa parecer óbvio para algumas pessoas, é comum a muitas pessoas a falta de clareza sobre seus objetivos e desejos – um dos principais fatores que, além das oscilações de mercado, levam à insatisfação do investidor com seu portfólio.
Ultrapassada esta etapa, é hora de fazer contas.
Você já projetou quanto dinheiro deveria ter hoje investido para lhe assegurar uma aposentadoria confortável daqui 10 anos?
Este passo permite não só que você passe a ter melhor dimensão da sua necessidade de rentabilidade como também entenda melhor os fatores de riscos que podem te distanciar do seu sonho.
Estratégia neutraliza inflação
Como você já deve ter percebido, não é tarefa simples projetar horizontes de tempo tão longos.
Mas fica claro que, neste caso, a inflação é um fator de risco que podemos neutralizar. Não por outro motivo, planos de Previdência estão entre os maiores compradores da dívida pública atrelada à inflação (IPCA+) e investidores individuais geralmente optam por títulos IPCA+ quando desejam alongar os vencimentos de seus títulos.
Contudo, colocar em prática esta estratégia no Brasil nunca foi trivial, pelos motivos já ressaltados neste texto.
Mas com a criação, pelo Tesouro Nacional, do Tesouro RendA+ e do Tesouro Educa+, o investimento baseado em metas ganhou espaço.
Porém, o investidor precisa esquecer alguns vícios para um melhor aproveitamento dos produtos.
Os Tesouros RendA+ e Educa+ como aliados
Ambos os títulos pagam a inflação no período além de uma taxa prefixada de juros, assim como os demais títulos IPCA+ disponíveis no Tesouro Direto.
Contudo, no fluxo de pagamentos, as diferenças são grandes.
Estamos acostumados a receber, além do valor, os juros acumulados no período. Sendo que estes podem também ser pagos ao longo da vigência do produto (o que chamamos de cupom).
No Tesouro RendA+, há um fluxo específico que facilita o planejamento de uma aposentadoria complementar.
Você investe hoje e não receberá nenhuma parcela por um tempo, que é o período de acumulação. Nesse tempo, os rendimentos são acumulados.
Depois de uma data, em vez de receber tudo em uma parcela (como o Tesouro IPCA+), você terá uma renda mensal por 240 meses (20 anos).
No Tesouro Educa+ a lógica é semelhante. Porém, o produto é para pagamento mensal durante 5 anos, prazo médio de duração de um curso de graduação no Brasil.
E é aqui que as visões se entrelaçam (e se confundem), especialmente no caso do Tesouro RendA+. Sendo um título de renda fixa com prazo médio elevado, a sensibilidade do preço a oscilações na taxa de negociação é também expressiva.
Ao mesmo tempo em que aparenta ser um produto de maior risco quando analisado por métricas, aos olhos de um investidor que busca renda na aposentadoria, o produto poderia ser como de baixo risco.
Isso porque o título garante predeterminado nível de renda no período contratado, reajuste pela inflação e baixo risco de crédito.
Às vezes, o risco está nos olhos de quem vê.
*Texto de Lucas Queiroz para o íon; para ler este e outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.
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