O IPCA de março, que será divulgado na próxima quarta-feira (10), será um primeiro passo crucial na condução da política monetária brasileira, na alta de preços e na taxa de juros.
Economistas mantêm expectativa de desaceleração de preços no mês, mas dizem que pode haver surpresas espinhosas nos dados da primeiro índice de preços amplo divulgado após o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) ter aberto mão de previsões de cortes, retirando o ‘s’.
A atenção do mercado financeiro está voltada para a inflação de serviços subjacentes, cujo impacto é maior sobre os modelos do BC para baixar a Selic daqui em diante.
Ao mesmo tempo em que esperam uma desaceleração no IPCA de março, economistas explicam que o núcleo vem se mostrando resistente com o mercado de trabalho brasileiro ainda aquecido.
O que esperar do IPCA de março?
Economistas ouvidas pela Inteligência Financeira preveem uma desaceleração dos preços medidos pelo IPCA em março. O índice deve mostrar avanço em torno de 0,20% para a inflação do mês, contra alta de 0,83% em fevereiro.
No cálculo da desaceleração na inflação prevista para março, especialistas consideram queda nos preços praticados pelos setor de Educação, que costuma inflacionar o IPCA em fevereiro pelo volta às aulas.
Além disso, o custo dos itens de Alimentos e no grupo Administrados, como combustíveis e energia elétrica, também devem recuar no mês.
Apesar da queda, economistas antecipam que a inflação de alimentos está desacelerando de forma mais lenta do que o esperado. O que pode ser explicado pelo fenômeno do El Niño e os efeitos na cadeia de alimentos.
O evento climático “jogou a inflação de alimentos para cima” no primeiro bimestre do ano, relata Andréa Ângelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos.
A corretora projeta um IPCA de 0,24% para março.
“Acredito que veremos uma inflação de alimentos em queda, mas apenas em maio ela deve passar a fechar no campo negativo, ou seja, de deflação”, diz Andréa.
Elisa Machado, economista-chefe da ARX Investimentos, aponta que o grupo de alimentos pode “surpreender por alta” no IPCA de março. Para ela, o grupo de alimentos deveria estar com uma inflação mais “acomodada” e com menor peso sobre o índice, o que não ocorreu.
“Esperávamos que fosse desacelerar mais rapidamente em março por causa da acomodação nos preços de arroz, feijão, legumes, etc”, explica. “Porém, outros itens, como leite, ovos, frutas e carne de frango estão puxando o grupo para cima, dando mais lentidão ao movimento de desaceleração”.
A ARX prevê que o IPCA de março deve chegar a uma variação de 0,27%.
IPCA de março tem ‘vilão’
Economistas explicam que, por enquanto, o indicador a ser revelado na quarta-feira (10) é o mais importante do ano. A resposta para isso é simples: porque o vilão na boca do BC ao diminuir o foward guidance foi a inflação de serviços subjacentes.
A inflação desta categoria considera variações de preços de serviços intensivos em mão de obra e exclui custos tidos como mais oscilantes, como passagens aéreas, por exemplo.
O mercado, de acordo com as fontes ouvidas pela reportagem, está bastante atento ao indicador. Ele foi citado no último comunicado do Copom ao justificar a derrubada do guidance pelo comitê, além de incerteza no cenário da economia global e nos Estados Unidos.
O indicador é importante porque o mercado de trabalho brasileiro continua aquecido. Contudo, a queda na taxa de desemprego não vem causando aumento no preço de serviços como o esperado, afirma Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital.
Nas estimativas da Galapagos, o núcleo de inflação de serviços subjacentes deve registrar alta de 0,47% no IPCA de março. Em 12 meses, a variação média de preços no setor deve estacionar em 5%.
“Existe uma relação inversa entre taxa de desemprego e inflação em serviços. Mas desde maio de 2023, o mercado de trabalho continua forte, vemos uma redução no desemprego, e a inflação de serviços permaneceu estável”, pondera a economista.
“E isso chama a atenção do BC, porque é esperado que, em algum momento, o mercado de trabalho pressione a inflação de serviços”, continua, ao relatar que hoje existe uma “boca de jacaré” no mercado.
Além do baixo desemprego, Andréa Ângelo afirma que o aumento do salário mínimo, acima da inflação em 2024, pode pressionar a inflação de serviços.
Como o IPCA pode impactar investimentos?
A estrategista-chefe da Warren afirma que o mercado vem colocando um prêmio de risco maior para títulos de inflação, especialmente os de longo prazo.
Nesta sexta-feira (5), investidores apontaram que os Títulos do Tesouro IPCA+ com prazo de vencimento para 2065 voltaram a pagar um prêmio em torno de 6% sobre a inflação.
O IPCA de março pode reforçar que há espaço para o BC cortar juros em 0,50 ponto percentual por mais duas vezes, afirma a executiva da Warren.
“Realmente (o IPCA) pode ajudar o BC a seguir com ritmo de corte de 50 pontos-base nas reuniões de maio e junho. Isso levaria a taxa até 9,75%”, diz.
A partir de junho, Andréa prevê uma conversão da Selic para a meta do Boletim Focus. A taxa de juros, portanto, ainda deve encerrar 2024 em 9%.
Ela ressalta, no entanto, que há um viés de alta para a inflação. A Warren afirma que o IPCA terminal deste ano é de 3,75%, enquanto o Focus sinaliza 3,50%.
O destaque para a convergência, conforme Elisa Machado, é a inflação de serviços subjacentes.
“Esse movimento tem preocupado o Banco Central, e os próximos dados serão muito importantes para vermos se é algo apenas pontual ou mais preocupante. É verdade que uma parte da alta se deveu a alguns itens específicos, que não são tão relacionados ao ciclo econômico, como serviço bancário. Porém, não foi só isso, tivemos números piores em vários subitens do grupo, com destaque para os serviços intensivos em trabalho. Por isso, é preciso manter a atenção nos próximos números”, conclui.
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